segunda-feira, 21 de abril de 2008

A dona dos jogos

Qualificar o esporte como entorpecente da vontade popular é algo antiquado. Na origem, o circus até fazia parte das estratégias dos governos para desviar a atenção do povo. Hoje o entretenimento esportivo é muito mais uma indústria do qualquer outra coisa. Aliás, como quase tudo.

Por causa da situação do Tibete e sua relação com a China - onde será realizado o maior evento esportivo do ano - há quem acredite em boicote aos Jogos Olímpicos por meio da não-participação de países ou de uma mobilização contra a cobertura realizada pelos meios de comunicação. São idéias mofadas que alguns ainda insistem em ventilar.

No conflito entre o governo chinês e os tibetanos, não se duvida que a razão esteja ao lado do Dalai Lama e de seus astros-propaganda, Sharon Stone, Richard Gere e grande elenco. Neste artigo não se debate isso. Mas lembre-se, esse problema não é recente, e a escolha da capital chinesa como sede da competição também não.

Considerando que é inadmissível a vinculação do sucesso esportivo a ideologias (sejam quais forem) como forma de propagá-las, o contrário deve ser igualmente inaceitável. Ou seja, não se pode tolerar a utilização de posicionamentos políticos para promover o fracasso do esporte, por mais relevante que seja a causa.

Não prestigiar os Jogos de Beijing (ou Pequim, como queiram) significa praticar uma agressão contra um processo econômico que rende bilhões de dólares, euros e, inclusive, reais, gerando empregos e oportunidades em todo o globo. Representa optar pela ignorância em relação a bons exemplos que encantam crianças e estimulam atitudes saudáveis em todas as gerações. É colocar-se em oposição à possibilidade de harmonia entre os povos que o esporte proporciona.

Se a República Popular da China ofende os direitos humanos no Tibete, boicotem os produtos e a cultura dela. Não comprem as roupas, os aparelhos eletrônicos e as bugigangas de 1,99 que ela exporta. Quem sabe evitem até a pólvora, por ter sido descoberta lá. Não leiam A Arte da Guerra, nem citem Confúcio. Reneguem até os clichês se desejarem radicalizar: comida chinesa, lavanderia e pastelaria. Só não tentem atingir o movimento olímpico. Os Jogos apenas estarão em solo chinês. A verdadeira dona deles é a humanidade.

* Publicado em O Informativo do Vale, 21 de abril, na Gazeta do Sul e em O Correio de Cachoeira do Sul, 23 de abril, no Diário de Canoas, 28 de maio, em A Razão, 16 de junho, e no Jornal NH, 11 de agosto de 2008.

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