quinta-feira, 17 de abril de 2008

Protagonismo da perícia

A tragédia que vitimou Isabella de Oliveira Nardoni, no último dia 29, em São Paulo, colocou em evidência a atividade pericial. Independente dos resultados a serem alcançados pelos Institutos de Criminalística e Médico-Legal da capital paulista, a relevância da perícia já está demonstrada pela expectativa que gerou em todo o país. Formou-se o consenso de que os peritos são fundamentais para o esclarecimento dos fatos que tiveram como conseqüência o óbito da menina de cinco anos que foi jogada do apartamento do pai.

A cobertura jornalística do episódio se fixou no desenvolvimento dos exames periciais. Profissionais da imprensa e veículos de comunicação empenham seus recursos na caça das notícias mais recentes sobre os laudos realizados e na reprodução mais compreensível da ciência utilizada pelos expertos. Por vezes, a velocidade que a imprensa exige contrasta com o tempo que os peritos necessitam para chegar a conclusões. No entanto, esse processo é semelhante ao dos jornalistas nas reportagens especiais. Levam-se dias, semanas ou até meses juntando peças. Depois, elas são encaixadas em grupos. Na seqüência, buscam-se os detalhes que vão unir cada pedaço montado. Isso é o mais complicado. O que se quer está lá, mas se demora a enxergar. De repente, de tanto debruçar-se sobre o material, aparecem os vínculos. Trabalho concluído. É assim com todos os grandes quebra-cabeças como é o caso Isabella Nardoni.

A investigação da cena do crime deixou de ser um seriado policial americano e se tornou um documentário diário na mídia nacional. O poder judiciário, o ministério público e a polícia se encontram também na condição de espectadores, apenas privilegiados por terem mais acesso a informações do que o restante da platéia. Sob a luz dos refletores, sem perder a discrição exigida pela profissão, os peritos realizam os seus papéis de sempre: a constatação e a análise completa dos eventos e a interpretação técnico-científica dos vestígios encontrados no local da morte. A diferença é que a repercussão de um drama como o que levou a vida de Isabella faz com que tudo isso se torne público.

Os laudos periciais serão as únicas peças do inquérito policial que seguirão até o final do processo judicial. Essa constatação comprova a permanente dependência que delegados, defensores, promotores e juízes possuem em relação ao trabalho dos profissionais da criminalística e da medicina legal. Todos eles necessitam da perícia para exercerem com qualidade os seus ofícios.

Essas são situações cotidianas e servem para que se entenda porque os peritos são os protagonistas do momento. Esses profissionais precisam mesmo ser valorizados de acordo com a relevância que tem. Que a nossa sociedade não precise da morte chocante de outras crianças para compreender essa importância de forma definitiva.

* Publicada em O Informativo do Vale e no Jornal VS, 17 de abril, no Diário de Canoas, 22 de abril, em A Razão, 29 de abril, no Informe ABC - Informativo da Associação Brasileira de Criminalística, Março/Abril, e no Jornal NH, 23 de junho de 2008.

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