terça-feira, 11 de novembro de 2008

Um centavo é caro

Não fazem mais promoções como antigamente. Houve uma época que bastava juntar tampinhas de refrigerante para trocar por ioiôs, copos ou miniaturas. Hoje, além de consumir um produto para reunir seus rótulos, sempre é necessário dar mais algum dinheiro para levar as quinquilharias ofertadas. Independente do sucesso que as campanhas atuais possam ter, mesmo que o valor a ser pago seja de um centavo, já é mais caro do que a gratuidade de outrora.

Um artigo recente de Chris Anderson, editor da revista Wired, especializada em tecnologia, trata sobre a tendência global para a Freeconomics, a economia do grátis. Os marqueteiros brasileiros precisam lê-lo. Enquanto o mundo percebe que o futuro dos negócios é usar a gratuidade como forma de inserção comercial, no Brasil ainda se prefere levar vantagem em tudo. Ou seja, aumenta-se a venda da mercadoria com o junte e ganhe e ainda se lucra com o preço fixado para o brinde.

É preciso abrir um parêntese aqui. Não é a toa que haja fábricas de salsicha sofrendo abalo com a valorização do dólar. A mesquinharia empresarial brasileira faz com que se desvie o foco do negócio na direção da especulação financeira. Essa distorção nos interesses comerciais se repete no caso das vendas casadas travestidas de promoções.

Falando em embutidos, uma das mais absurdas ações promocionais dos últimos tempos estava por esses dias em um encarte de uma rede de supermercados. Na compra de três peças de mortadela com quinhentos gramas cada, com mais um centavo, o cliente levava uma bisnaga de patê. Custando um cem avos de real o patê se tornou caríssimo, pois ele trazia consigo o preço de um quilo e meio de mortadela. Calcule a quantidade de sanduíches com pão seco (uma bisnaga não dá nem para o começo) que resultariam dessa compra. Quem come tanta mortadela assim? E se come, precisa muito mais do que um patêzinho.

Quem inventou essa promoção tentou agradar o chefe e o contador da empresa, mas esqueceu de quem realmente importa: o consumidor. Como lembra Anderson em seu artigo, custo zero é o que as pessoas querem e o que cada vez mais encontrarão. Ou, traduzindo para o vernáculo do brasileiro, de graça até injeção na testa e ônibus errado porque nessas situações, como no case do patê, um centavo também já seria caro.

* Publicado em A Razão e no Diário Popular de Pelotas, 11 de novembro, em O Correio de Cachoeira do Sul, 12 de novembro, no Diário de Canoas, 15 de novembro de 2008, e no Jornal NH, 10 de fevereiro de 2009.

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