quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Bom é não ter bandidos

Bandido bom é bandido morto? Vivo? Ou o que não nasceu? Pesquisa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência registrou que 43% dos entrevistados responderam de forma afirmativa à primeira questão. Ao que consta, as demais não foram feitas. A leitura inicial do índice apontaria para uma significativa rejeição aos direitos dos infratores da lei. Todavia, esse percentual pode ser considerado baixo se a intenção dos participantes era apenas a de concordar com uma solução para os atuais índices de violência.

O maniqueísta perguntaria quem são os outros 57% que preferem os bandidos vivos? Os próprios criminosos? Seus amigos, parentes e familiares? Não é por aí. A problemática está na expressão explorada. Se o oposto dela tivesse sido usado, referindo-se a delinqüentes vivos, o percentual alcançado seria minguado. Logo, poderia se entender que o restante (superior aos 43% obtidos) tem a intolerância imaginada.

Na realidade, o mais crível em relação aos que disseram preferir os bandidos mortos é que eles desejam que não haja fora-da-lei e encontraram na eliminação a forma de encarar o problema. Ao que parece, a outra possibilidade existente ficou fora da pesquisa. Ou seja, o equacionamento da questão. Faltou uma alternativa que indicasse como impedir que os criminosos surjam. Nesse contexto, o levantamento é falho ao preocupar-se com um bordão sensacionalista sem buscar a visão dos entrevistados sobre outras opções.

É possível acreditar que a hipótese “bandido bom é o que não nasce” tivesse um índice superior ao do quesito pesquisado. Sabendo-se que os processos de ressocialização dos que cometem delitos de grande potencial ofensivo são difíceis e raros, resta agir no berço da infração da lei.

Quem discordaria de políticas públicas que protejam melhor e de forma mais ampla crianças e adolescentes? Quem divergiria da priorização da educação para conscientização dos deveres e limites de cada cidadão? Quem se oporia ao enfrentamento da impunidade que corrói a sociedade?

Assim, antes de desejar a morte de criminosos, independentemente de pesquisas e de debates em torno dos direitos humanos, o bom é não ter bandidos. Ou será que é querer demais?

* Publicado em Zero Hora, 17 de dezembro, em O Globo Online, 22 de dezembro de 2008, e no site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 19 de janeiro de 2009.

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