terça-feira, 12 de maio de 2009

Tudo será ouvido


A audição é o sentido da moda. Para bem ou para mal, todos parecem dispostos a escutar. Tanto na esfera privada quanto na pública há investimentos na criação de serviços de ouvidoria. A ideia é que clientes e contribuintes acreditem que suas opiniões, sugestões e reclamações estão sendo levadas em conta pelas empresas e pelo governo.

Por outro lado, quase toda investigação, legal ou ilegal, tem nas interceptações telefônicas o seu foco principal. E a repercussão das escutas que atingem políticos e grandes empresários se transformou em debate nacional. Por exemplo, a presença permanente desse tema nas manchetes fez da chamada CPI dos Grampos, instalada na Câmara de Deputados desde dezembro de 2007, um processo interminável que ainda não conseguiu apresentar o seu relatório final.

Além disso, tem sido comum o uso de gravadores escondidos para capturar diálogos comprometedores tanto por pessoas que querem proteger-se quanto pelas que desejam incriminar alguém.

Nesse contexto, a famosa frase de Andy Warhol de que todos teriam no futuro quinze minutos de fama deve ser interpretada de outra maneira. Em breve, todos terão algumas horas de suas conversas registradas de forma secreta. Seja por algum órgão público para apuração de um delito ou por criminosos com objetivo de chantagem mesmo.

Falando em notoriedade, uma das penúltimas formas de medir o status de alguém era pelo número de celulares que a pessoa tinha. Isso é passado. Agora o que interessa é a quantidade de grampos que ela sofre. Toda vez que isso vaza para o noticiário acaba tornando o sujeito gravado em celebridade instantânea. O espaço é tão amplo que junto seguem para o estrelato os citados na conversa e o araponga de plantão.

Como qualquer assunto em voga, as escutas clandestinas são matérias obrigatórias para a imprensa. As revistas semanais estão construindo suas tiragens com esse tipo de reportagem. A mais famosa delas um dia ainda vai mudar de nome. De Veja para Ouça.. Aliás, por que não anexar um CD de brinde em cada edição? Não seria mais divertida a audição do batepapo dos outros do que apenas a leitura?

A realidade é que hoje basta ouvir para crer. No entanto, há quem não queira escutar o que se está dizendo por aí. Esse é um direito que qualquer bom ouvidor respeitará. Afinal de contas, aquele que não concorda com algo é livre para dar suas opiniões, colocar suas sugestões e fazer suas reclamações. Por isso, não se preocupe. Fale. Tenha certeza de que tudo será ouvido.

* Publicado no Diário de Canoas, na Gazeta do Sul e no Jornal NH, 12 de maio, no Agora de Rio Grande, 13 de maio, e no Correio de Gravataí, 18 de maio de 2009.

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