segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Marte vai ser aqui

Desde a chegada da sonda Phoenix em Marte no final de maio, novas descobertas sobre o quarto planeta do Sistema Solar foram realizadas. As últimas tratam do encontro de perclorato no solo marciano, substância nociva a algumas formas de vida. Esse achado ainda requer confirmação, mas já se discute como ele afetaria a capacidade daquele astro ser habitável.

Desenvolver um projeto de colonização futura em Marte é uma das motivações do esforço exploratório. Busca-se a confirmação da presença de água e da possibilidade de vir a existir vida lá. Inclusive, em teoria, especula-se a respeito de um processo chamado de “terraformação” que em cerca de dois séculos transformaria o Planeta Vermelho em um mundo verde e azul – agricultável e com oceanos.

No entanto, ao prestar-se atenção na Terra, o atual corpo celeste no qual moram mais de seis bilhões de pessoas, parece ser mais viável que nessas duas centenas de anos se dê o contrário. Ao invés de modificar outro planeta, aqui é que pode virar algo parecido com o que Marte é agora – um lugar sem vida.

Exagero? Enquanto se busca água em Marte, a FAO, agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação, já alertou que em vinte anos faltará água para dois terços da população do mundo. O dióxido de carbono corresponde a mais de 95 por cento da atmosfera marciana. De acordo com o instituto americano Center for Global Development, no ano passado os países desenvolvidos emitiram mais de sete bilhões e meio de toneladas de gás carbônico apenas na geração de energia. Marte tem uma superfície absolutamente erma. Segundo a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação hoje um terço da Terra corre o risco de virar deserto. Não há provas de que haja qualquer tipo de flora ou fauna no Planeta Vermelho mesmo que microscópica. No livro O Futuro da Vida, o biólogo Edward O. Wilson estima que, mantida a atual taxa de destruição dos ecossistemas causada pelo homem, metade de todas as espécies de seres vivos estará extinta em cem anos.

Além disso, não se está livre do terrorismo, das guerras globais, de pandemias, da escassez de alimentos e de outros tipos de extermínio. Assim, se a pretensão é tornar um outro planeta habitável, é preciso antes garantir que a Terra não seja a próxima rocha vazia que talvez outras vidas ditas inteligentes venham a explorar daqui a alguns milênios. Ou se preserva a biosfera ou Marte é que vai ser aqui.

* Publicado no Diário Popular de Pelotas, 22 de agosto, em A Notícia de Joinville, 26 de agosto, e no Jornal VS, 30 de agosto de 2008.

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