sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Eleições pré-sal

Desde que a escolha dos prefeitos das capitais voltou a ser de forma direta, não se vive uma eleição tão insípida. A propaganda eleitoral veiculada nesse pleito só é superada na monotonia pela dos tempos da Lei Falcão, quando a televisão reproduzia apenas a fotografia do candidato enquanto o currículo dele era lido.

Os candidatos viraram marcas de sabão em pó. Embalagens (partidos) diferentes, promessas iguais. Tentam provar que fazem o mesmo que os outros só que melhor. Não há originalidade nem criatividade. Não há sonho nem emoção. Faltam apelos que mobilizem os eleitores em torno de algo.

Um indicador é o número de automóveis que portam adesivos de aspirantes a prefeito, por exemplo. Lembre-se de outras eleições e compare. Hoje é raro o carro em que o proprietário declara sua preferência sem que ele seja familiar ou pretendente a cargo de confiança.

Nem nos aspectos folclóricos essas eleições vão bem. A urna eletrônica acabou com o Cacareco e o macaco Tião. Até o Enéas morreu. De estranho só o fato de que boa parte dos postulantes aos cargos de vereadores diz ser capaz de resolver 508 anos de problemas federais. Tudo isso vale para grande maioria dos municípios do país.

Alguns culpam as restrições impostas pela legislação eleitoral por esse pleito de pés no chão que não consegue decolar. Outros creditam à maior fiscalização dos gastos a debilidade das campanhas de publicidade. Seria até possível crer nisso, mas o Tribunal Superior Eleitoral demonstrou o contrário.

A única propaganda boa o suficiente para gerar comentários, movimentar o cenário e causar polêmica foi a do Tribunal. Até um bordão ela conseguiu fixar na cabeça do povo. Quem não gravou que quatro anos é muito tempo? De tão eficaz que foi a mensagem, ela fez com que alguns políticos provocassem a sua retirada por se sentirem atingidos. Porém o TSE acertou outra vez ao lançar um novo conjunto de inserções. Os comerciais protagonizados por Lavínia Vlasak provam que se for para agir como um ator quando se fala em política, que se escolha um profissional. E grávida então? Por que nenhuma candidata pensou nesse tipo de comoção antes? Se o sufrágio fosse ainda em papel, Lavínia faria muitos votos por aí.

Como hoje só se fala em pré-sal, pode-se dizer que esta também é a característica desse pleito eleitoral. Ou seja, antes do sal, sem tempero ou sabor, insosso. Aliás, se paladar não se discute, sem debates interessantes, as eleições atuais só podem mesmo ser classificadas como sem gosto. Blergh!

* Publicado na Gazeta do Sul, no Diário de Canoas e em O Globo Online, 19 de setembro, no Diário Catarinense, 25 de setembro, e no Diário Popular de Pelotas, 26 de setembro de 2008.

Nenhum comentário: