quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pedágios, tubaína e a Madonna

O debate promovido por especialistas em torno dos pedágios dificilmente escapa do confronto ideológico. Existem argumentos válidos tanto para os que são contra como para os que estão a favor. Já para os demais cidadãos o que importa é o custo e o benefício. Se as tarifas fossem mais baratas quase não haveria reclamações. Se as estradas estivessem em excelentes condições, o muxoxo seria inaudível. O fato é que o preço está acima do aceitável e o estado das rodovias longe do esperado. Aliás, o esforço marqueteiro das concessionárias neste aspecto beira o inacreditável. Tentam provar que vias mais ou menos são ótimas e que o custo elevado é compatível com o serviço oferecido. No entanto, em um mundo que tem tubaína e a Madonna isso não é crível.

Quando o consumidor troca um refrigerante de marca por um genérico da linha popular sabe que não terá a qualidade da cola e do guaraná original, mas a razão do freguês é clara. Ele procura pelo produto mais barato. Quem escolhe pagar menos o faz sem esperar pelo melhor. Só se aceita beber tubaína porque o preço é baixo.

Em contrapartida, quando essa turma decide ir a um espetáculo internacional do nível que a Madonna irá realizar em dezembro no Brasil, o valor a ser gasto se torna secundário. O entretenimento será caro, porém se está ciente que ele vale isso. Não pela excelência musical, algo que pode até ser discutível. O que pesa é a experiência diferenciada que uma artista dessa categoria costuma proporcionar.

Com os pedágios, a tendência é a mesma. Como as rodovias oferecidas não são mais do que genéricos populares, não se fica satisfeito pagando qualquer centavo a mais do que preço de “refrigereco”. E pelos valores atuais, ninguém aceita nada inferior a estradas de primeira linha com gabarito internacional.

A relação entre custo e benefício é um indicador que a intuição do cidadão consegue expressar em termos monetários, devido à repercussão que sente em seu bolso ao avaliar gastos e ganhos. Com as rodovias o processo é semelhante ao que se está acostumado a realizar quando se compra um refrigerante, um ingresso para um espetáculo ou qualquer outra coisa.

Não sendo viável um padrão com tarifas baratas e estradas de qualidade, a única discussão que restará a respeito dos pedágios é essa. Ou o modelo adotado é todo com características de tubaína ou só com atributos de estrela mundial. Enquanto isso não ocorre, seguimos pagando preço de Madonna para dirigir em rodovias de módicas condições.

* Publicado no Agora de Rio Grande e no Diário Popular de Pelotas, 11 de setembro, no Diário Catarinense, 12 de setembro, e no Diário de Canoas, 15 de setembro de 2008.

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