segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A invenção da década?

Não, não é o iPhone. Nem o Grande Colisor de Hádrons. Esse, aliás, já está em manutenção. Fez bang antes de ser big. A candidata à invenção da década é a resposta para uma das três questões da ficção científica que jamais poderiam se tornar realidade. As outras duas são o teletransporte e a viagem no tempo. A eureca dos dias atuais é um aparato capaz de ler mentes.

O Fast M – abreviatura em inglês de tecnologia móvel para rastreio de atributos futuros – é um sistema de detecção de más intenções que está sendo testado pelos norte-americanos para prevenir atentados. O equipamento interpreta dados biométricos e reações corporais, identificando tendências hostis, em tempo real e de forma não invasiva. Também conhecido como Malintent, o aparelho é um trailer modulado por dentro do qual as pessoas passam para ser examinadas.

A geringonça é um produto típico da paranóia pós-11 de setembro e da era Bush. Se a máquina faz o que almeja é irrelevante frente às possibilidades que se pode imaginar para algo assim. Começando pelos Estados Unidos, parece que o invento teria sido mais útil aos banqueiros quebrados se antes de darem crédito para qualquer um tivessem verificado a pretensão das pessoas em quitar suas dívidas. Se bem que a maioria sempre quer pagar seus débitos, o problema é ter dinheiro suficiente para saldar vinte cartões ao mesmo tempo.

Há aplicações mais universais para o produto. Por exemplo, seria o fim da forma como a política é feita hoje. Se os reais objetivos dos candidatos a cargos públicos pudessem ser conhecidos antes deles serem sufragados, os com inclinação para corrupção não seriam votados. Ou seriam? Qualquer semelhança com a realidade no caso é de propósito.

Talvez não haja aproveitamento mais desejado do que nas relações amorosas. Quanta traição seria evitada se fosse viável antecipar a disposição de cada pessoa em um relacionamento. Já os pais não precisariam perguntar quais as intenções dos rapazes com suas filhas (ainda se faz isso?). Apesar de que eles sempre estiveram cientes da resposta. Contudo, antes do genitor seria a própria menina que gostaria de saber se o namoradinho quer fazer mal a ela. E caso ele não queira, corre o risco de ser mandado ao inferno junto com o tal Fast M. Lá que é o lugar das boas intenções não é mesmo?

* Publicado em O Correio de Cachoeira do Sul, 17 de outubro, no Diário Popular de Pelotas, 18 de outubro, no Diário de Canoas, 20 de outubro, e na Gazeta do Sul, 24 de outubro de 2008.

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