quarta-feira, 1 de maio de 2019

A Era do Transtrabalho


Em 2016, Klaus Schwab publicou a obra A Quarta Revolução Industrial. Fundador do Fórum Econômico Mundial, Schwab diz que estamos em um período de mudanças de como vivemos e trabalhamos, diferente de tudo o que houve antes. Em relação às profissões, isto parece não ter um conceito definido fora o usual 4.0 ao lado da definição tradicional. Pois creio que podemos falar em Era do Transtrabalho.

Primeiro, porque está associada à transformação, transmutação, transfiguração. Depois, atualmente o que parece e é tem sido chamado de cis, enquanto, em oposição, trans é reservado a um universo amplo de situações que já não são o que eram. Logo, o transtrabalho reuniria desde atividades que não eram profissões e agora viraram até serviços que não são mais empregos, além de ocupações antes restritas em tempo e espaço que não têm mais esses limites.

O elemento catalisador dessas metamorfoses é a convergência de tecnologias. Robótica, inteligência artificial, big data, máquinas que aprendem, virtualização. Cada vez mais a origem semântica de trabalho perde sentido. Em latim, tripalium, instrumento de tortura, podendo também ser entendido como aquilo que causa dor ou fadiga. Com a redução de oportunidades, o ser humano, que para Kant era o único animal voltado ao trabalho, ruma para se juntar ao resto da fauna.

Entre o que sobra nestes tempos, a ferramenta básica é o celular. Ele estendeu a jornada para sete vezes 24 horas e rompeu as paredes da firma, agora reduzidas ao bolso ou à bolsa. Logo, o profissional símbolo deste momento é o trabalhador de aplicativo: motorista, locador, entregador etc., conforme a serviço do que ou de quem estiver. Mas também se incluem youtubers, atletas de e-sports, apostadores, influenciadores... Enfim, o que possa ser feito com um dispositivo móvel e gere renda. Aliás, essa é uma das poucas coisas que não mudaram. Cistrabalho ou transtrabalho ainda são uma necessidade humana para obtenção de recursos para sobrevivência. Mas até quando?

* Publicado em Zero Hora, 1º de maio de 2019.

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