segunda-feira, 24 de março de 2008

Rodízio de idéias

Os veranistas retornaram. Os estudantes também. E o trânsito congestionou nas principais cidades gaúchas. O problema recorrente provocou o surgimento de um projeto mirabolante e pontual na capital. A idéia de gênio para tirar a cidade do engarrafamento é o rodízio de veículos.

Já tentado em outros lugares, seria a vez de Porto Alegre. Amanhã, quem sabe, Canoas, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Caxias do Sul, Pelotas, Santa Maria, Rio Grande, Passo Fundo...

A proposta é reduzir o tráfego diário em 20%. Um quinto dos transportes particulares deixariam de circular em um dia entre segunda e sexta de acordo com o final da placa. Como existe respeito à faixa de pedestre, não se para em local proibido, não se tranca cruzamento, nem há ultrapassagens pelo acostamento, o rodízio seria cumprido e a situação amenizada. Como diria o outro, conta agora uma de papagaio.

Há uma sugestão melhor. Que tal a subtração de um terço dos automóveis nos horários de pico? Um resultado de início superior ao esperado com a rotatividade apresentada.

Se o trânsito funciona bem durante as férias escolares e freia ao longo do ano letivo, o revezamento deveria ser do período sem aulas e não dos veículos. Dividam-se os alunos em três grupos. Uma parte descansa em janeiro, fevereiro e julho e faz suas avaliações em dezembro. Outra repousa em maio, junho e novembro e realiza exames em abril do próximo ano. A terceira folga em setembro e outubro e no ano seguinte em março, tendo provas finais depois em agosto. Opa! Reinventei a roda. No caso, o calendário rotativo.

Seja com ciranda de carros ou carrossel na folhinha, não se pode crer que é viável resolver problemas complexos com iniciativas isoladas, fantasiadas como criativas ou originais. Se fosse tão fácil já teria dado certo. Se alguém tivesse a resposta com exclusividade, estaria rico com ela e não a jogando ao ar.

Sozinho, o rodízio de veículos tende a ser tão frustrante para o trânsito quanto foi o calendário rotativo para a educação. É de planejamento que se precisa. Necessita-se de propostas sistêmicas, integradas e elaboradas com antecedência, considerando fatores diversos como política, economia, cultura, ética, tecnologia, engenharia e clima. Por ora, que fiquem estacionados os projetos desconexos e se embarque na busca coletiva de soluções. No momento, o mais sensato é optar por esse rodízio nas idéias.

* Publicado no Diário de Canoas, 24 de março, no Agora de Rio Grande, 25 de março, no Diário Popular de Pelotas, 02 de abril, e no Jornal NH, 30 de maio de 2008.

Nenhum comentário: