quinta-feira, 19 de junho de 2008

Cuecão para a moral

O frio chegou ao estado. Para ajudar aqueles que estão abaixo da linha de pobreza a enfrentar as baixas temperaturas mais uma vez está lançada a campanha do agasalho. Usando de um trocadilho antigo, verifica-se um contraste com o calor dos acontecimentos que envolvem o governo. Porém, apesar de um clima político superaquecido, os fatos dos quais se toma conhecimento são de arrepiar pêlos, enregelar almas e renguear cuscos. Logo, parece ser também necessário algum tipo de solidariedade para atender aqueles que não trajam os valores morais e éticos socialmente aceitos.

Colocar em prática essa empreitada é urgente porque tal qual a temperatura o nível do debate baixou muito. Pode-se dizer que virou uma briga de lavadeira, mas a associação dessa categoria profissional por certo protestará contra a comparação. É preciso que todos se dispam de ressentimento, arrogância, pretensão, egocentrismo e vaidade para que se possa lavar a roupa (e a ficha) suja de alguns. Esse é um trabalho para ser feito de mãos limpas, longe da influência da máquina pública e dos secadores de plantão.

Essa campanha deve diferenciar-se em relação às habituais arrecadações de agasalho em que basta que se contribua com alguma roupa velha. Na procura por princípios o importante é a busca por renovação e atualização de idéias. Pode-se ainda tentar resgatar conceitos que até parecem ultrapassados e fora de moda tais como honestidade, dignidade, compromisso, caráter e respeito. Ou seja, tudo que não deve ser perecível.

Não se trata de “pregar moral de cueca”, até porque muitos estão desnudos mesmo, precisando vestir no mínimo as roupas de baixo para acabar com a pouca vergonha. É necessário então um primeiro movimento para dar abrigo à ética. Os postos de recepção das doações devem ser colocados em órgãos de todos os poderes e de todas as esferas. Na administração direta e indireta. Nos serviços delegados e concedidos. Nos terceirizados e, inclusive, na iniciativa privada. Ninguém pode ficar de fora.

A rainha está nua. Do olhar infantil à miopia senil, quase ninguém mais percebe roupa nova ou novo jeito de governar. É preciso reunir valores que restaurem aquele sentimento de orgulho que hoje está tão surrado, amassado, puído, remendado, desbotado, enxovalhado, amarrotado, sem botões e com furo nos fundilhos. Aquela sensação de que aqui a política era diferente. De que podíamos tirar o chapéu para todos os nossos representantes públicos.

Essa é uma touca que deveria servir em todo mundo. É hora de vestir a pilcha da constância e da virtude, expressão da tradição, da cultura e da identidade própria do gaúcho. Para sobreviver a uma era glacial ética, chegou o momento de nós começarmos a ditar moral de cueca, cuecão, bombacha, pala, etc.

* Publicado em O Informativo do Vale, 19 de junho, no Diário de Canoas, 21 de junho, na Gazeta do Sul, 24 de junho, no Diário Popular de Pelotas, 25 de junho, e no Jornal VS, 19 de julho de 2008.

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