domingo, 24 de fevereiro de 2008

Trânsito de Elite

Ao entrar no seu carro, pense que você está recebendo uma granada sem pino das mãos do Capitão Nascimento. A cena extraída do filme “Tropa de Elite” apresenta o heterodoxo recurso didático utilizado pelo personagem de Wagner Moura para obter atenção total do aspirante zero-cinco. A idéia é aproveitar essa e outras imagens que invadiram o cotidiano nacional com o sucesso cinematográfico de 2007 para falar de trânsito.

A mensagem da granada sem pino é de alto impacto. Se não for contida com cuidado, ela detona você, levando junto os que estiverem ao seu lado e outros mais. Numa situação como essa não se abusa da velocidade, não se bebe, não se viaja com sono, sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à segurança. Com um explosivo entre os dedos, jamais.

Um automóvel deve ser conduzido da mesma forma. Evite que seu carro se transforme num artefato bélico. Você não deseja ser conhecido como mais um número na guerra do trânsito. No Rio Grande do Sul, foram 35 mortes no último Natal e 26 na virada do ano. No próximo feriadão e sempre, contamos com você para não aumentar esta estatística. Aqui não dá para colocar na conta do Papa. Sua família é que conta.

Um trânsito de elite passa por você e por todo o sistema. É o resultado da atuação de múltiplos atores sociais: poder público, comunidade, empresariado, igreja, escola e família. Representa estradas duplicadas, sinalizadas e fiscalizadas, vias conservadas, automóveis seguros, transporte público adequado, tolerância com o próximo, informação e conhecimento, ética e menos impunidade e violência. Você é protagonista nessa história, astro principal da sua vida, autor do roteiro que escolher para seguir. Seja qual for a direção e o sentido, que esteja dentro dos limites de velocidade. Cuidado para não queimar o filme.

Adaptando o vocabulário empregado na obra do diretor José Padilha, saiba que você é o xerife de seus atos. Não seja um fanfarrão. Peça para sair do volante, se for o caso. Não seja moleque. Não vire caveira. Ou vai ser sua família a vestir roupa preta. Não dê bobeira, não. Chega de o trânsito ser osso duro de roer. De pegar um, de pegar geral. Ou ele também vai pegar você.

* Publicado na Gazeta do Sul, 26 de janeiro, em Zero Hora, 28 de janeiro, e em O Globo Online, 31 de janeiro de 2008.

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