domingo, 24 de fevereiro de 2008

Maravilhas da democracia

A Mulher Maravilha na capa da Playboy é uma das polêmicas da vez nos Estados Unidos. Uma modelo com o uniforme pintado sobre o corpo interpreta a personagem. A discussão gira em torno do significado dessa presença em uma revista erótica. Alguns vêem o fato como um retrocesso para as conquistas femininas. Outros só enxergam a publicação fazendo o que sabe: instigar os fetiches do seu público.

Pela ótica do primeiro grupo, a heroína é um ícone de emancipação, exemplo de força e independência. Logo, há indignação com o uso dela como objeto sexual. Chega-se ao exagero de classificar a opção por uma personagem com as cores da bandeira americana como uma tentativa de atingir Hillary Clinton, representante feminina na corrida presidencial.

Essa apreciação conspiratória ganha corpo porque vai ao encontro das escolhas editoriais da revista e seu hábito de chamar atenção com a exposição das mulheres mais debatidas e badaladas. Vide o Brasil e a recente edição com Mônica Veloso, ex-amante do então presidente do Senado.

Seguindo essa linha erótico-política, pode-se até especular a respeito de quem vai ficar nua para representar o escândalo dos cartões corporativos. Na impossibilidade de serem Matilde Ribeiro, ex-ministra da Igualdade Racial, que já foi despida de seu cargo, ou Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, que não teve pudores na defesa do governo, Viviane Castro surge como candidata.

A moça do mais ínfimo protetor de genitália do Carnaval 2008 já está desnuda no sítio virtual de uma concorrente, a revista Sexy. No entanto, bem que ela poderia fazer um novo ensaio como musa da folia dos cartões. A chamada de capa seria "quanto menor o tapa-sexo, maior a transparência". Viviane faria algumas fotos com um cartão de crédito como adereço, mostrando que, mesmo com o dobro do tamanho do controverso adorno que ela "vestiu" no sambódromo carioca, pode não haver cobertura para quem o utiliza. E no pôster central o título diria: "Quebra de sigilo do portal mais comentado do país".

Polêmicas e paranóias à parte, tanto aqui quanto nos Estados Unidos, uma das maravilhas da democracia é o direito de opinião e de informação. Seja a respeito do que for. De mulheres peladas aos gastos do governo. Essa é a verdadeira segurança de uma nação.

* Publicado em Zero Hora, 14 de fevereiro de 2008.

Nenhum comentário: