domingo, 24 de fevereiro de 2008

Um ser humano para presidente

Hillary Clinton e Barack Obama são os favoritos do momento para a presidência dos Estados Unidos. Em outras palavras, a Casa Branca poderá ser comandada pela primeira vez por uma mulher ou por um negro. A situação em si é suficiente para todo tipo de análise.

Esse artigo não é diferente. Só que aqui se aproxima o tema para essa aldeia chamada Rio Grande do Sul. Nosso Obama foi Alceu Collares. Em 1990, os gaúchos elegeram o primeiro negro governador do estado mais “branco” do Brasil. Dezesseis anos depois, chegou a vez da nossa Hillary, Yeda Crusius, ser governadora do estado mais “machista” do país.

Na lógica gaúcha, poderia se dizer que quase duas décadas separaram a aceitação a um negro em relação a uma mulher. Na América, caso um dos dois venha a ser presidente, não se fugirá de alguma sentença. Obama chegou a Casa Branca porque se aprova até um negro presidente, menos uma mulher. Ou, Hillary venceu porque se admite até uma mulher comandante-em-chefe, menos um negro. Pior se nenhum dos dois for eleito, parecerá que o modelo branco, anglo-saxão e protestante ainda impera na terra dos livres e lar dos bravos.

Collares, Yeda, Obama, Hillary, ao serem tratados pelo seu gênero ou pela sua etnia, inclusive pelo articulista, denotam que se levará algum tempo até que se enxergue que eles chegaram ou chegarão “lá” por suas qualidades e defeitos como seres humanos. Aliás, Obama não é apenas um afro-americano oprimido com porões de navios negreiros na sua árvore genealógica. Ele tem também descendência e parentes quenianos. É filho de um imigrante livre que foi estudar na América. Hillary, antes de ser apenas “mulher”, é ex-primeira-dama de um dos mais populares presidentes americanos e vítima de um dos mais rumorosos casos de infidelidade conjugal. E ainda dizem que foram as suas lágrimas femininas (ou seriam humanas?) que fizeram ela se recuperar nas primárias de New Hampshire.

Essa disputa ainda levará alguns meses e outras análises serão feitas. Nós, gaúchos, ficaremos na expectativa para saber se os norte-americanos alcançarão o mesmo grau de evolução quando se trata de lidar com preconceitos, enquanto o mundo vai esperar mais lágrimas de Hillary, de alegria ou de tristeza. Afinal, mulher tem que chorar, né? Ou não?

* Publicado em Zero Hora, 15 de janeiro de 2008.

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